Uma Comédia ”sem Moral nenhuma”

“O Autor escreve para se entreter e o mais curioso é afigurar-se-lhe que deve insistir na classificação de COMÉDIA a uma peça na qual há veneno e Morte em cena. Afirmando o Autor que “riu e riu com gosto ainda nas passagens mais trágicas e que COMÉDIA será eternamente.”


23 de outubro de 2009

Em boa companhia

Redes. Sinergias. Intercâmbio. Parcerias. Estruturas de criação artística. Língua portuguesa. Descentralização. Cidades.
De vez em quando, é útil refrescar o sentido de determinados conceitos. Praticando-os.
“Sabina Freire” é o primeiro momento de um programa de duas co-produções entre a Companhia de Teatro de Braga e A Escola da Noite – Grupo de Teatro de Coimbra. Um projecto a dois anos que começa por ser uma auto-provocação e um desafio que nos quisemos impor. Contra qualquer tendência para a instalação, contra a segurança dos processos já testados, contra os preconceitos – próprios e alheios. Em cada um destes momentos, os responsáveis artísticos das companhias dirigem equipas mistas (actores, cenógrafos, figurinistas, técnicos, produtores), confrontando os intervenientes com diferentes e novos métodos de trabalho, abordagens estéticas e modelos de organização. A unir os dois espectáculos, uma das linhas de intervenção que estas estruturas partilham há muito: a valorização e divulgação da literatura de língua portuguesa (dramática e não só), em todas as suas cambiantes e origens geográficas.
Com “idades” e percursos diferenciados, a CTB e a EN souberam construir, ao longo dos anos, várias oportunidades para trabalhar em conjunto: assegurando directamente um intercâmbio regular de espectáculos e a presença regular de cada uma na cidade da outra; na Plataforma das Companhias, onde debatem e intervêm sobre a particularidade das estruturas de criação sediadas em cidades de média dimensão; no âmbito do projecto da Cena Lusófona, onde têm aprofundado o intercâmbio teatral com agentes e criadores dos vários países de língua portuguesa e com a Galiza. Foi aliás com a Cena Lusófona (e com o Teatro Vila Velha, de Salvador da Bahia) que realizaram, há quase dez anos, a sua primeira co-produção – o projecto “Quem Come Quem”, com a participação de actores de todos os países de língua portuguesa.
Vários factores contribuem para esta proximidade, mas talvez seja possível resumi-los num conjunto de princípios que definem a nossa forma de estar no teatro e de conceber o nosso próprio papel no difuso sistema teatral português: a defesa do interesse público da criação artística, assumida como um direito universal das populações mas também como eixo fundamental de desenvolvimento das cidades e das regiões; a preocupação com a clarificação de conceitos e com a definição de regras transparentes e de objectivos contratualizáveis na relação entre o Estado e as estruturas de criação; a valorização da figura de “companhia” enquanto projecto artístico com identidade própria, reconhecível pelo público e garante da diversidade cultural; a contribuição para o aumento da qualidade da formação artística no país; a capacidade de interagirem e de crescerem com as cidades onde trabalham, com os seus públicos e as suas instituições; o contributo concreto para a afirmação do profissionalismo no sector da criação teatral e a reivindicação da urgência na definição do estatuto profissional dos artistas; a vontade e o esforço em assegurar uma circulação nacional do seu trabalho, conciliando-a com a realização de significativas temporadas nas suas cidades.
Na relação entre as duas companhias faltava, ainda assim, o passo seguinte: cruzar os projectos artísticos, fundindo-os temporariamente para criar algo de novo. Neste “Sabina Freire” não verão um espectáculo da CTB nem uma produção d'A Escola da Noite. A integração foi de tal forma profunda que o que aqui se apresenta é uma espécie de terceira e nova companhia – efémera, sem dúvida, mas feita do melhor que temos para oferecer.
Nós já ganhámos. Abrindo-nos ao outro, fomos capazes de trocar, de aprender, de partilhar, de descobrir em nós próprios qualidades (e defeitos) insuspeitados.
É essa riqueza que agora queremos começar a partilhar com os públicos de Braga, de Coimbra e das várias outras cidades onde vamos apresentar este espectáculo. Convidando-vos a fazer o mesmo percurso que fizemos, certos de que estamos, cada um de nós, em muito boa companhia.


Braga, Outubro de 2010

Companhia de Teatro de Braga
A Escola da Noite

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