Uma Comédia ”sem Moral nenhuma”

“O Autor escreve para se entreter e o mais curioso é afigurar-se-lhe que deve insistir na classificação de COMÉDIA a uma peça na qual há veneno e Morte em cena. Afirmando o Autor que “riu e riu com gosto ainda nas passagens mais trágicas e que COMÉDIA será eternamente.”


30 de março de 2010

Reportagem da SIC sobre as comemorações oficiais do Dia Mundial do Teatro pela Presidência da República, cerimónia que teve lugar no Museu dos Coches, em Lisboa.


Recordamos que Sabina Freire, da autoria de Manuel Teixeira-Gomes (Presidente da República Portuguesa entre 1923 e 1925), integra o Programa das Comemorações do I Centenário da República.

23 de março de 2010

"Sabina Freire" nas comemorações oficiais do Dia Mundial do Teatro


No próximo dia 26 de Março, sexta-feira, Sabina Freire, da autoria de Manoel Teixeira-Gomes (Presidente da República entre 1923 e 1925), com encenação de Rui Madeira, uma co-produção da Companhia de Teatro de Braga e A Escola da Noite, é apresentada no âmbito da comemoração oficial do Dia Mundial do Teatro pela Presidência da República.

Na cerimónia, que terá lugar no Museu Nacional dos Coches, em Lisboa, o actor Ruy de Carvalho será condecorado com o título de Grande Oficial da Ordem de Santiago da Espada. António Feio, Beatriz Batarda, Manuela Maria e o encenador Joaquim Benite serão, por sua vez, condecorados com o grau de comendador da Ordem do Infante D. Henrique. Maria Custódia Gião também é distinguida com o grau de Oficial da Ordem do Mérito. A companhia de Teatro Seiva Trupe vai receber a honra de membro Honorário da Ordem de Mérito.

A peça, que estreou a 30 de Outubro passado, no Theatro Circo de Braga, e posteriormente foi apresentada em Coimbra, no Teatro da Cerca de São Bernardo, integra o Programa das Comemorações do Centenário da República.

12 de março de 2010

12 de janeiro de 2010

14 de novembro de 2009

Sílvia Brito (Maria Freire)

É licenciada em História pela Universidade Clássica de Lisboa. Iniciou a actividade teatral em 1985 no Cénico de Direito. Entre 1990 e 1992 fez parte do elenco do Teatro Nacional D. Maria II. Em 1992 integrou A Escola da Noite. Como actriz, trabalhou com os encenadores Rogério de Carvalho, António Augusto Barros, Ricardo Pais, Nuno Carinhas, Konrad Zschiedrich, José Abreu Fonseca, José Caldas e Pierre Voltz, entre outros. Como encenadora, dirigiu n'A Escola da Noite os espectáculos “Farsa de Inês Pereira”, de Gil Vicente, “Bonhard”, a partir de Thomas Bernhard (com António Augusto Barros), “Jacques e o seu Amo”, de Milan Kundera, “Além as estrelas são a nossa casa”, de Abel Neves (com António Augusto Barros), “Almocreves e outras cousas que em Coimbra se fizeram em 1527”, a partir de Gil Vicente, “2 Perdidos numa noite suja”, de Plínio Marcos, “Profundo”, de José Ignacio Cabrujas e “TNT – Tumulto no Teatro”, de Raul Brandão, e “Este Oeste Éden”, de Abel Neves.
Sílvia Brito é Maria Freire: 60 anos, estatura mediana, tez pergaminhosa, cabelo muito negro alisado em bandos que lhe cobrem metade das orelhas; olhar envidraçado e movimentos automáticos.

13 de novembro de 2009

António Jorge (Augusto César e Ministro)

Membro fundador d'A Escola da Noite. Iniciou a actividade teatral no Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra (TEUC) em 1987. Integrou a organização da Bienal Universitária de Coimbra – BUC/90. Participou em vários festivais internacionais (Espanha, França e Bélgica). N'A Escola da Noite encenou “Amado Monstro”, de Javier Tomeo (1992, com José Neves), “Noivas”, de Cleise Mendes (2005), “Prometeu 06”, a partir de Ésquilo, Kafka e Heiner Müller (2006), “Bonecos & Farelos”, de Gil Vicente (2008) e “700 máskaras à procura de um rosto ou um artista da fome”, de Kafka (2008). Participou como actor em praticamente todos os espectáculos da companhia, sendo ainda responsável pela cenografia e adereços em alguns deles.

António Jorge é Augusto César: 65 anos, malfeito, esgrouvinhado e corcovado; gaguejando nos lances patéticos; olhos redondos espantados, cabelos e barbas de maçaroca de milho.


É também o Ministro: sem idade certa, pois todo o seu talento se exauriu no empenho de a disfarçar; bem-posto, quase elegante; magro, penteado com arte; cabelo e bigode pintados e envernizados a brilhantina.







12 de novembro de 2009

Miguel Magalhães (Josezinho Soares)

Diploma da Escola Profissional de Teatro de Cascais (1996). Frequentou workshops de pantomina (por Jersey Klonowski), dança (Margie Gillis) e expressão dramática (Abraham Moss School, de Manchester). No Teatro Experimental de Cascais, sob a encenação de Carlos Avilez, integrou os elencos dos espectáculos “O Dia de Uma Sonhadora” (1996); “Portugal, anos 40” (1996); “O Auto da Barca do Inferno” (1998); “A Desobediência” (1999); “Lorca, Frederico” (1999) e “Os Porquinhos da Índia” (1999). No Teatro Aberto, integra os elencos dos espectáculos “Top Dogs” (1999, encenação de João Lourenço); “Até Mais Ver” e “Lucefécit” (2000, encenação de João Lourenço); “A Última Batalha” (2000, encenação de Fernando Heitor). Colabora com A Escola da Noite desde Dezembro de 2006: integrou os elencos dos espectáculos “Tchekhov e a Arte Menor”, “Na Estrada Real” e “A Boda” (todos de Anton Tchékhov e encenados por António Augusto Barros), “Auto da Índia: aula prática” e “Bonecos & Farelos” (de Gil Vicente), “TNT – Tumulto no Teatro” (de Raul Brandão, encenado por Sílvia Brito), “Atravessando as palavras há restos de luz”, a partir de Kafka (encenação de António Augusto Barros) e “Este Oeste Éden”, de Abel Neves (encenação de Sílvia Brito).
Miguel Magalhães é Josezinho Soares: 30 anos; cara embezerrada ediota anódino.

11 de novembro de 2009

Ricardo Kalash (Epifânio)

Iniciou a sua actividade teatral no Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra em 1988, onde trabalhou com os encenadores Rogério de Carvalho, Ricardo Pais e João Grosso, entre outros. Participou nos projectos “Olharapos” e “Peregrinação”, no âmbito da Expo'98, sob a direcção de Cândido Ferreira e João Brites.
N'A Escola da Noite, integrou os elencos de “Os Persas”, de Ésquilo (encenação de Pierre Voltz), “Pranto”, de Gil Vicente (encenação de António Augusto Barros), “Jacques e o seu amo”, de Milan Kundera (encenação de Sílvia Brito), “Além as estrelas são a nossa casa”, de Abel Neves (encenação de António Augusto Barros e Sílvia Brito), “Bonecos & Farelos”, de Gil Vicente (encenação de António Jorge), “TNT – Tumulto no Teatro”, de Raul Brandão (encenação de Sílvia Brito”, “Atravessando as palavras há restos de luz”, a partir de Kafka (encenação de António Augusto Barros, e “Este Oeste Éden”, de Abel Neves (encenação de Sílvia Brito).
Paralelamente à sua actividade de actor, encena e desenvolve actividades de formação em grupos de amadores de teatro e grupos de teatro escolar (Coimbra, Montemor-o-Velho e Trancoso). Dirige o grupo de teatro da Liga dos Amigos do Museu Machado de Castro, em Coimbra.

Ricardo Kalash é Epifânio: 35 anos; cabeça de figurino barbado do Grandela, coleando como um cisne; tez rosada, passinho curto, movimentos símios.

10 de novembro de 2009

Lina Nóbrega (Josefina)

Nasceu em 1988. Licenciada em Estudos Artísticos pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Iniciou o seu percurso teatral no Grupo de Teatro de São Lourenço, em Portalegre, sob a direcção de Carlos do Rosário.
Membro do Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra desde 2007, de cuja direcção faz parte. Neste grupo, integrou os elencos de “O sonho”, de Strindberg (encenação de Pedro Matos), “Oresteia”, de Ésquilo (encenação de Rogério de Carvalho) e “Leôncio e Lena”, de Georg Büchner (encenação de Pedro Malacas).
É actualmente actriz estagiária n'A Escola da Noite.

Lina Nóbrega é Josefina: 20 anos. Criada de servir; gorda, molenga e espapaçada. Ideal de corações votados a amores ancilares.

3 de novembro de 2009

Thamara Thaís (Francisca)

Thamara Thaís iniciou a sua actividade no Bando de Teatro Resistência, no Brasil, em 2007, onde estudava jornalismo.
Em 2008, frequentou uma oficina da Cena Lusófona, orientada por Rui Madeira, após o que foi seleccionada para um estágio na Companhia de Teatro de Braga, onde integrou o elenco de "As Bacantes", de Eurípides e de "Preconceito Vencido", de Marivaux.
"Sabina Freire" é o seu terceiro trabalho na CTB, sempre sob a direcção de Rui Madeira.

30 de outubro de 2009

Solange Sá (Sabina Freire)

Solange Sá é bacharel em Teatro-Interpretação pela ESMAE.
Trabalhou com Pierre Voltz, Nuno Cardoso e Andrzej Sadowski, Afonso Fonseca, e, em 2002, integrou a Companhia de Teatro de Braga, onde já foi dirigida por Rui Madeira, Manuel Guede Oliva, António Durães, José Ananias, Alexej Schipenko, Anna Langhoff e José Caldas.


Solange Sá é Sabina Freire: 24 anos, alta, ondulosa, braços magros, cinta fina, quadris estreitos, seio farto e inflando na geminada curva dos bem distintos pomos.

Sabina Freire - Uma Comédia” sem Moral nenhuma”

O momento
A criação deste espectáculo surge num contexto de circunstâncias muito particulares, tanto para o país como para nós Companhia de Teatro de Braga.
Não se trata apenas de mais uma co-produção com uma outra Companhia. Trata-se de A Escola da Noite, com quem mantemos relações previlegiadas há longos anos, com quem confrontamos ideias e reflexões, afectos, actores e espectáculos. Decidimos nestes dois anos ir mais longe nessas trocas para tentarmos fazer algo de exemplar e urgente no panorama teatral nacional. Mas disso se falará noutro momento deste programa.

Depois, acresce que em 2010 a República comemora 100 Anos e a CTB comemora 30 Anos. Visto com os “olhos da História” a distância temporal não é assim tão grande. (vêm-me à memória o som das palavras ditas um dia pelo dr. Fernando Valle, na sua quinta de Coja, à mesa, depois dum opíparo almoço. Homem integro e Bom, ele SIM Amante da República, que A viu nascer, quase diria a parturiou e por Ela Lutou. “Ó amigo Rui, os portugueses passam a vida a dizer que Portugal é um país velho. Velho?! Como? “São quatro gajos com a minha idade!”, que na altura seriam 101ou 102 anos, apenas.

O tempo
Ora, 30 anos de vida de uma companhia de Teatro em Portugal, corresponde bem a 100 anos de República. E Comemorar estas duas datas, em conjunto com esta outra companhia a partir de um espectáculo construído em cima de um texto, no “mínimo estranho”, escrito por um ex-presidente da República, parece-nos escolha e oportunidade ímpar. Mais ainda se se trata de um ex-presidente que, como intelectual, foi alguém que se posicionou sempre com ” olhos de ver”o País e de que matéria era formada a diversidade caricatural das figurinhas que à sua volta pululavam.
Entendemos estas circunstâncias como um acto de reconhecimento para com o Autor e sua Obra (Sabina Freire); como uma afirmação de cidadania, neste tempos de novo (ou sempre) conturbados de República. A posição destas duas Companhias deve assim ser entendida como um exemplo de afirmação Democrática e de exigência no cumprimento dos valores republicanos, na educação, na cultura e na cidadania.

O texto. A Palavra. Os Actores
E depois há o Texto. E o material com que se faz o espectáculo: A PALAVRA E O ACTOR. E este País! E esse texto foi SABINA FREIRE. E com ele e a partir dele, com os Actores se construiu o espectáculo. Mas a pergunta que aflorou à cabeça de quase todos, logo na primeira leitura, terá sido “mas que peça é esta?” Questão semelhante colocará com o mesmo ar espantardoado, Augusto César na penúltima réplica da peça: Que mulher é esta? Uma “Cantante” responderá Epifânio. Um fantástico texto dramático, direi eu!
Sabemos que não é texto “muito feito nem muito escolhido” quando se fala do teatro português do século XX. Temos conhecimento da dificuldade de o catalogar quanto ao género: Comédia? Tragédia? Farsa? A recensão crítica sobre este único texto de teatro de Teixeira-Gomes é, diria, datada, o que não deslustra, antes acentua a qualidade e perspicácia quer do Autor quer daqueles que sobre ela escreveram (Urbano Tavares Rodrigues, João de Barros, Fialho d’Almeida, José Régio…….

Debruçamo-nos sobre a Obra literária de Teixeira-Gomes e a sua atitude perante ela. Tentando entender a sua peculiar figura de intelectual, de político e de cidadão, mais se adensa o mistério ou estranheza sobre esta Sabina Freire. Parece-nos que conflui nesta peça tudo que do Autor sabemos ou que ele permitiu que soubéssemos e, até mesmo, o que nunca saberemos. Sabina é um objecto literário, dramático, mas é muito mais do que isso. É, certamente o resultado da observação cosmopolita e distanciada a que o Autor se “obrigou” nas múltiplas viagens por essa Europa de início do século XX. Conhecimento feito de “ver e frequentar”A sensação de experimentar os novos ventos que varriam a Europa, nas Artes, na Literatura e no Teatro. E a importância que a mulher nórdica começava a assumir na sociedade. Ele que por lá negociava figos do seu Algarve e que depois por lá se demorava a “ver”as pessoas e os movimentos. Acredito que tenha confrontado então a camponesa desnuda que furtivamente se banhava em bando na ribeira de Bensafrim e cotejado os seios e as curvas das ancas que para si altivamente exibiu, com esses outros bustos e cabeças dessa outra Europa. Aí, terá, porventura o Poeta “sonhado” um novo busto para a “sua República? Mas um Busto com Cabeça. E o modelo escolhido terá sido SABINA! Sim, as personagens femininas de Ibsen, as presenças de Lou Andreas-Salomé ou Anais Nin e de outras que preenchiam os círculos de Paris. A importância de Freud e de Nitzche. E do teatro de Tchekov… Quem escreve Sabina sabe e tem cultura teatral. Quem trabalha este texto, encontra nele “jogos” e referências que não deve ignorar. Para mim, Ibsen. Talvez menos Hedda Gabler e mais Espectros, na relação mãe (srª Alving, sem marido) e o jovem filho (Oswald) pintor, que se aventurou pela Europa do sul e a silenciosa criada Regina. Talvez mais Gaivota de Tchekov, no triângulo vivencial entre Treplev, o jovem escritor, Nina, a jovem e apaixonada actriz e Macha, a silenciosa criada, que tanto o ama e a presença da mãe (sem marido) Arkadina. Ou até, se quisermos, uma referência mais mediterrânica e mais matriarcal: o lado Lorquiano de Maria Freire.

Para uma espécie de sinopse:

Sabina Freire. O espectáculo e os Portugueses
Em Sabina Freire, sejamos claros, estamos numa verdadeira luta de cabeças. E essa luta é uma luta de fêmeas! As mulheres mandam. Os homens fazem parte do universo dos fantoches (o bando, como lhes chama Sabina). Mesmo quando Júlio se atreve a abandonar a dor de cabeça para o confronto derradeiro com Sabina, o resultado é ficar finalmente a conhecê-la.
Se analisado na época em que foi escrita e se analisado hoje, passados quase 100 anos, deslumbramo-nos (se ainda nos soubermos deslumbrar) com o material Sabina, que Teixeira- Gomes nos legou. Nós, portugueses, tão velhos como afirmamos e tão incapazes de nos descobrirmos na modernidade que transportamos. Tão ciosos das nossas vitoriazinhas morais, tão mesquinhos e fanfarrões, tão capazes de cuspir para o ar e tão invejosos da saliva dos vizinhos, “espreitas” profissionais, serventuários sem espinha, intrujões na autoestima e portadores no adn de ontológico sentimento de inferioridade congénito, fomos e somos “vistos à lupa” pela cabeça de Teixeira-Gomes. Continuamos um povo em ruínas, em que o Castelo de Silves como diz Sabina, é “a sua mais nobre ruína, a sua única ruína histórica”, pensa ela, “ nesta região só abundam monumentos e ruínas nos corações e nas almas! E no entanto eu levo daqui a impressão de uma terra luminosa, onde tudo sorri… Se eu a povoasse de novo e a meu jeito podia ser feliz vivendo nela…” é, quiçá, um bom exemplo. Pouco ou nada mudou de relevante entre o tempo da escrita de Sabina e o tempo em que a vamos representar. E aí reside a grandeza do Autor e a pequenez dos “observados”. Por isso Sabina antes da partida dispara ainda “ Excluía a gente velha: crisol do egoísmo sem graça; os padres: e talvez os poetas líricos da espécie do Júlio.”
Fim da espécie de sinopse


impressões
Intrigou-me bastante, durante o processo de criação deste espectáculo, a cabeça do Autor. Passei algumas horas ao longo destes dois meses a “olhar” as suas fotos. Não as de infância mas as mais maduras que alguns já chamaram de caducas. Na ânsia de encontrar uma respiração do texto e do Autor, a partir duma imagem do corpo e da imagética que a Palavra, que se nota sempre escolhida, pode produzir. Justificações para a busca de um trabalho, não psicologista com os actores.

Claro que se pode fazer muita coisa com tanta matéria - prima. Nós procuramos o Prazer, tentamos descobrir os diversos ritmos e respirações de cada cena. Perceber-lhes o Tempo. E a partir da Palavra procurar os sentidos possíveis e contemporâneos do texto. Com os actores irmos organizando a cena, os espaços, as energias e as tensões.
O objectivo, porque há sempre um objectivo, será conseguir que o público espectador se interrogue e estranhe o texto.

Queria deixar dito os meus profundos agradecimentos às actrizes e aos actores. A todos da CTB e da Escola da Noite, pelo muito trabalho e sobretudo pela disponibilidade. Um beijo especial ao Rogério, à Sofia e à João. E ao Rui Anahory, que 20 e tal anos depois embarca de novo. E a todos e a todas que contribuíram para este espectáculo.

rui madeira

* este espectáculo é uma homenagem do encenador à Memória do Homem dr. Fernando Valle, republicano e Tudo.

28 de outubro de 2009

André Laires (Júlio Freire)

Psicólogo clínico e formador certificado, André Laires faz também investigação na Universidade do Minho na área de psicologia. Estreou-se como actor em 2008, no espectáculo “As Bacantes”, de Eurípides, com o qual se apresentou em Braga, Coimbra, Évora e S. Paulo, Brasil. Integrou também o elenco de “Preconceito Vencido”, de Marivaux. “Sabina Freire” é o seu terceiro trabalho na CTB.
André Laires é Júlio Freire: 30 anos, delgado, elegante e pálido; cabelos negros anelados; grandes olhos castanhos.

26 de outubro de 2009

Carlos Feio (Padre Correia e Procurador Ferreira)

Tem o curso de Formação Teatral da Escola do Centro Cultural de Évora e foi co-fundador do Teatro Independente Pronto, onde trabalhou como actor e encenador. Faz parte da Companhia de Teatro de Braga desde 1985, onde trabalhou com encenadores como António Moreno, Rui Madeira, Luís Varela, António Fonseca, José Ananias, Acácio de Carvalho, Saguenail, Mark Dornford-May, Gil Filipe, Fernando José Saraiva, António Durães, Jean Pierre-Sarrazac, José Caldas, Manuel Guede, Alexej Schipenko.

Carlos Feio é o Padre Correia: 55 anos; presumido; bastíssimo cabelo preto eriçado e encarnecido nas fontes, às malhas de cal derramada sobre carvões; coroa microscópica; mãos de freira.
É também o Procurador Ferreira: Encarnecido velho hirsuto com maliciosos e oblíquos olhos chineses.

Jaime Soares (Dr. Fino)


Mestre em Ciências da Educação e licenciado em Filosofia e, é também actor formado pela Seiva Trupe e formador acreditado de expressão dramática. Foi professor de Filosofia no ensino secundário e, desde 1994, tem trabalhado como actor profissional. Faz parte do elenco permanente da Companhia de Teatro de Braga desde 1998. Em paralelo, tem orientado diversas acções de formação na área da expressão dramática.



Jaime Soares é Dr. Fino: 60 anos, gordo, anafado, prazenteiro; olhos claros e à flor do rosto; marrafa a repartir as falripas grisalhas que mal lhe vestem o alto do vastíssimo crânio; calvície tonsural muito ampla; barrigudo; mãozinhas sapudas e brancas; gestos prelatícios.

23 de outubro de 2009

Em boa companhia

Redes. Sinergias. Intercâmbio. Parcerias. Estruturas de criação artística. Língua portuguesa. Descentralização. Cidades.
De vez em quando, é útil refrescar o sentido de determinados conceitos. Praticando-os.
“Sabina Freire” é o primeiro momento de um programa de duas co-produções entre a Companhia de Teatro de Braga e A Escola da Noite – Grupo de Teatro de Coimbra. Um projecto a dois anos que começa por ser uma auto-provocação e um desafio que nos quisemos impor. Contra qualquer tendência para a instalação, contra a segurança dos processos já testados, contra os preconceitos – próprios e alheios. Em cada um destes momentos, os responsáveis artísticos das companhias dirigem equipas mistas (actores, cenógrafos, figurinistas, técnicos, produtores), confrontando os intervenientes com diferentes e novos métodos de trabalho, abordagens estéticas e modelos de organização. A unir os dois espectáculos, uma das linhas de intervenção que estas estruturas partilham há muito: a valorização e divulgação da literatura de língua portuguesa (dramática e não só), em todas as suas cambiantes e origens geográficas.
Com “idades” e percursos diferenciados, a CTB e a EN souberam construir, ao longo dos anos, várias oportunidades para trabalhar em conjunto: assegurando directamente um intercâmbio regular de espectáculos e a presença regular de cada uma na cidade da outra; na Plataforma das Companhias, onde debatem e intervêm sobre a particularidade das estruturas de criação sediadas em cidades de média dimensão; no âmbito do projecto da Cena Lusófona, onde têm aprofundado o intercâmbio teatral com agentes e criadores dos vários países de língua portuguesa e com a Galiza. Foi aliás com a Cena Lusófona (e com o Teatro Vila Velha, de Salvador da Bahia) que realizaram, há quase dez anos, a sua primeira co-produção – o projecto “Quem Come Quem”, com a participação de actores de todos os países de língua portuguesa.
Vários factores contribuem para esta proximidade, mas talvez seja possível resumi-los num conjunto de princípios que definem a nossa forma de estar no teatro e de conceber o nosso próprio papel no difuso sistema teatral português: a defesa do interesse público da criação artística, assumida como um direito universal das populações mas também como eixo fundamental de desenvolvimento das cidades e das regiões; a preocupação com a clarificação de conceitos e com a definição de regras transparentes e de objectivos contratualizáveis na relação entre o Estado e as estruturas de criação; a valorização da figura de “companhia” enquanto projecto artístico com identidade própria, reconhecível pelo público e garante da diversidade cultural; a contribuição para o aumento da qualidade da formação artística no país; a capacidade de interagirem e de crescerem com as cidades onde trabalham, com os seus públicos e as suas instituições; o contributo concreto para a afirmação do profissionalismo no sector da criação teatral e a reivindicação da urgência na definição do estatuto profissional dos artistas; a vontade e o esforço em assegurar uma circulação nacional do seu trabalho, conciliando-a com a realização de significativas temporadas nas suas cidades.
Na relação entre as duas companhias faltava, ainda assim, o passo seguinte: cruzar os projectos artísticos, fundindo-os temporariamente para criar algo de novo. Neste “Sabina Freire” não verão um espectáculo da CTB nem uma produção d'A Escola da Noite. A integração foi de tal forma profunda que o que aqui se apresenta é uma espécie de terceira e nova companhia – efémera, sem dúvida, mas feita do melhor que temos para oferecer.
Nós já ganhámos. Abrindo-nos ao outro, fomos capazes de trocar, de aprender, de partilhar, de descobrir em nós próprios qualidades (e defeitos) insuspeitados.
É essa riqueza que agora queremos começar a partilhar com os públicos de Braga, de Coimbra e das várias outras cidades onde vamos apresentar este espectáculo. Convidando-vos a fazer o mesmo percurso que fizemos, certos de que estamos, cada um de nós, em muito boa companhia.


Braga, Outubro de 2010

Companhia de Teatro de Braga
A Escola da Noite

22 de outubro de 2009

Manoel Teixeira-Gomes


Manoel Teixeira-Gomes (Portimão, 1860 - Bougie, Argélia, 1941) foi um intelectual de elevada craveira, estadista, escritor e, também, Presidente da República entre 1923/1925, quando o regime parlamentar atravessava alguns dos seus momentos mais críticos. Como diplomata coube-lhe enfrentar situações de grande complexidade, como combater a hostilidade das monarquias europeias perante o regime republicano implantado.

19 de outubro de 2009

de Urbano Tavares Rodrigues

“Comédia insistiu M. Teixeira-Gomes em chamar a esta sua peça de teatro em que há veneno e morte em cena. Tal indicia a presença soberana da ironia mesmo nas cenas aparentemente mais trágicas. Nunca, ou quase nunca, de facto, a ironia se ausenta das réplicas de Sabina Freira, excepto quando ela entoa o hino à vida, mas à vida plena, livre e triunfal, que nada tem a ver com os arremedos lusitanos da pífia corte de D. Maria Freire, metáfora do atraso do país, dos seus mesquinhos vícios e dos seus ridículos, nos últimos anos da monarquia.
A apologia do crime racional feita por sabina tem alguma coisa a ver com o elogio nitzscheano da virtus antiga. Não há dúvida de que é ela, apesar de uma certa ferocidade radiosa (que a levará a ir até ao fim na vingança) a única figura de luz, entre os baços manequins que cavaqueiam e fazem vénias no palácio provincianos dos Freires.”
(Excerto de Urbano Tavares Rodrigues no prefácio da 4ª edição).

Ficha artística

Encenação: Rui Madeira
Actores da CTB:
Solange Sá (Sabina Freire)
André Laires (Júlio Freire)
Jaime Soares (Dr. Fino)
Carlos Feio (Padre Correia e Procurador Ferreira)
Actores d’A Escola da Noite:
Sílvia Brito (Maria Freire)
António Jorge (Augusto César e Ministro)
Ricardo Kalash (Epifânio)
Miguel Magalhães (Josezinho Soares)
Lina Nóbrega (Josefina)

Thamara Thaís (Francisca)
Cenografia: Rui Anahory
Figurinos: Sílvia Alves
Desenho de Luz: Fred Rompante
Criação de Som e Imagem: Luís Lopes
Criação Gráfica: Carlos Sampaio

17 de outubro de 2009

Género e discurso nesta admirável terriola

Por via do teatro, da narrativa e mesmo da poesia, emerge nas primeiras décadas do século XX um conjunto singular de personagens femininas, dando visibilidade a uma deslocação na estrutura social e nos protocolos da representação artística que vale a pena destacar. Sabina Freire inaugura de certo modo esta galeria de mulheres que, mediante uma espécie de contraste de género, denunciam a pátria como «terriola» preconceituosa e mal frequentada. Esta deriva feminina nem sempre se caracteriza por um sentido unívoco ou claramente emancipatório. Existem diferenças mais ou menos acentuadas entre Sabina Freire (1905), A Leviana (1921) de António Ferro, a Judite que Almada Negreiros anuncia com O Nome de Guerra (1925), a vida marginal da Zilda (1921) de Alfredo Cortez, ou a ambígua «confraternização mental feminista» que antecede o vigésimo matrimónio da Protagonista, em Os Gladiadores (1934), peça em registo grotesco do mesmo autor. Sabina Freire integra portanto este laboratório social, onde deveríamos porventura incluir ainda A Lei do Divórcio que Augusto Lacerda escreveu para o Teatro Nacional, justamente em 1910, ano da aprovação de legislação que viria a reconhecer o direito ao divórcio e igualdade de tratamento entre homem e mulher.
Teixeira-Gomes, como é sabido, assumiu a arte como operador privilegiado da redenção humana. Apreciar significa, antes de tudo, aprender a olhar, dominar a velocidade necessária à incorporação sensível das coisas e dos seres, em movimento lento e contínuo. Eis o que escreve a Columbano: «O primeiro mês da minha viagem foi todo em perpétuo mobile – cinematográfico (…) em todos os ramos das belas-artes e letras o essencial é poder, é saber ver». Apreciar propriamente a vida e a arte configura uma equação que ao tempo haveria de orientar toda uma estratégia de nobilitação posta em marcha pelo patriciado burguês republicano. Acresce que a soberania da arte negava qualquer autoridade à moral, considerada como o maior obstáculo, perante o mesmo Columbano: «O último, o inexpugnável reduto dos inimigos da beleza, aquele onde eles se entrincheiram vitoriosamente, para daí condenar às penas máximas os grandes artistas rebeldes, é a moral».
Ora, a vontade de viver que move a personagem Sabina Freire recusa assim o esteticismo de tipo decadentista e aproxima-se antes da corporeidade livre que a tradição jacobina e vitalista admirava. Casada com Júlio Freire, um poeta lírico de velha cepa lusitana, transplantada de Paris para a rusticidade do Algarve em finais de Oitocentos, Sabina ilustra a referida capacidade de apreciação, mas promove também uma verdadeira inquirição à cultura de chegada, esmiuçando a um tempo o território e as mentalidades que vem encontrar.
Neste processo de inquirição feminina é justo reconhecer que apesar de um ou outro excesso palavroso, mormente em alguns solilóquios, a análise efectuada resistiu notavelmente à prova do tempo. Veja-se, a este propósito, o diálogo entre Sabina e o Doutor Fino sobre a ascensão da figura do médico em Portugal. Além de secularizar o antigo ofício das almas, observamos como em termos históricos o médico se despede por completo do tempo em que «barbeavam e monopolizavam a aplicação dos clisteres», passando a beneficiar em contexto doméstico de um ascendente deveras bacoco: «Implantou-se aqui a hierarquia da doença competindo com a hierarquia social da fortuna e do sangue». Esta referência à mania de falar de doenças metaforiza assim a própria patologia das elites locais, bem como a patologia do espaço público e conversacional. A nação tende à sociabilidade mesquinha da casa de D. Maria Freire, uma provinciana somítica e retrógrada. A este pequeno mundo não faltará sequer um Padre interesseiro, um Ministro artificioso e o baile ao Segundo Acto.
O próprio registo cómico que domina a peça compreende-se melhor no âmbito da pedagogia do riso. A crítica seguramente desejaria ver nesta Sabina o registo sério de uma Hedda Gabler, com quem aliás a personagem partilha autonomia, maquinação e apetência criminosa. No entanto, o mundo boçal e os desmandos retóricos dos conterrâneos legitimam a estratégia risível que Teixeira-Gomes enfatizou nesta comédia em três actos. Não há de facto comicidade fora do que é humano: são vários os momentos nos quais a ironia e a paródia servem o rasteio impiedoso dos costumes e dos hábitos, ou mesmo a redução sarcástica de Epifânio e Augusto César a «excelentíssimos pedaços de asnos». Abundam os momentos de ironia, o cómico de situação, as insinuações hilariantes, além de tiradas melodramáticas provindas de um marido «empapado de luar», incapaz de agir com tino.
O dramaturgo manifesta desta forma um domínio completo sobre o seu meio expressivo e, não raras vezes, revela a percepção metateatral que define o olhar exterior a que tende o risível da comédia: Júlio anda «hamlético», o léxico conceptual contamina o diálogo teatral, insinuam-se «cenas dramáticas» e «tragédias gregas». A linguagem e a estruturação do texto de Teixeira-Gomes precedem a experimentação formal e mimética do modernismo. Neste âmbito, o autor privilegiou claramente o pathos expressivo e a legibilidade da fábula, em função de uma mulher possuída pelo «encanto de viver» a todo o custo, com ou sem venenos adicionais.
Fernando Matos Oliveira